Este livro é fruto de uma extensa pesquisa acadêmica, a nível de mestrado, na obra literária do autor uruguaio Felisberto Hernández. Neste estudo, a autora constata que este autor, pianista e escritor, é sobretudo um excêntrico que produz uma literatura personalíssima a partir da periferia do sistema literário institucionalizado de seu período e contexto. Em meio a estreitos vínculos amistosos com intelectuais adeptos das tendências artísticas da primeira metade do século passado, ele nunca abriu mão de sua marginalidade a fim de prezar por sua autonomia criativa. Ao longo das análises, a autora mostra como Felisberto Hernández produziu uma obra original que se propôs a se aventurar em um terreno ainda hoje obscuro: os meandros da mente que guardam os resquícios de nossas histórias. Uma empreitada que exerce sobre nós leitores um estranho poder de atração e, por vezes, até de identificação. O sentimento de angústia gerado em seus narradores pela obsessão em relação ao passado, seguido da impossibilidade de reconstrução da sua totalidade, nos mostra a permanente sensação de estranheza que eles experimentam em relação ao mundo, sensação tão comum à condição humana.