Esta disserta § úo tem como escopos principais a análise do romance Os Dem ´nios (1872) de Fiódor Dostoiévski e a escrita dostoievskiana como um todo, tendo como fulcro, primeiramente, o pensador e filósofo da linguagem Mikhail Bakhtin, que cunhou o termo polifonia, para descrever a prosa multiplanar do autor russo, em que ideias plenivalentes e equipolentes competem e s úo corporificadas em personagens nos quais vigora a inconclusividade. O homem inacabado (homem no homem), cuja autoconsci ªncia se desdobra e gera duplos, está radicado nas fissuras de uma cosmovis úo teológica e crist ú que é a do próprio autor enquanto abertura para o Outro, carreando múltiplas fissuras filosóficas, existenciais e religiosas. Sua técnica ficcional muniu-o de uma capacidade de n úo só dramatizar, mas também testar as ideias em possibilidades insuspeitadas, em sintonia com o que Giorgio Agamben denomina o contempor óneo. Essa posi § úo singular dá vaz úo a uma pot ªncia de nega § úo capaz de rastrear as sombras do niilismo da Modernidade em suas matrizes diversas, escancarando o Mal numa proje § úo política, cósmica e também literária, atributo o qual é singularizado pelo filósofo Georges Bataille como a pot ªncia inerente á literatura, a que ela n úo pode jamais renunciar. Percorrendo os meandros da sociedade russa oitocentista, em especial o insurreicionismo radical dos jovens niilistas da década de 1860, Dostoiévski consegue auscultar seus desvarios e convert ª-los em matéria poética.